Todos preferiam o frescor matutino. Ela não.
As mulheres costumavam andar juntas, conversando sobre casa, família, filhos. Às vezes, algumas fofocas. Mas não aquela mulher.
Ela preferia o sol do meio-dia.
Homens aconchegavam-se sob alguma tenda ou uma mínima sombra de um pequeno arbusto.
Mulheres ficavam em casa, colocando os filhos para dormir.
Lagartos se escondiam embaixo de qualquer pedra.
Mas ela caminhava no sol escaldante.
O silêncio era sua única companhia. Sinceramente, sua melhor companhia.
Afinal, ela era a razão das conversinhas e risadas.
Cântaro nos ombros, costas encurvadas, consciência pesada.
Tudo que aquela samaritana não precisava era de companhia.
Mas naquele dia, ela não pôde evitar.
Ao chegar ao poço, deparou-se com um jovem rapaz.
Traços fortes, encostado na fonte de água. Algo diferente no seu olhar.
"Um judeu, em Samaria?" pensou ela.
"Mulher, podes me dar de beber?" disse Ele.
Aquilo com certeza não acontecia todo dia.
Um judeu falando com um samaritano.
Uma samaritana.
Uma mulher.
E aquela mulher.
Sua vergonha vivia estampada em sua face, marcada pela dor.
Abandonos, traições. Coração partido. Amou e não foi amada.
As cascas de seu coração eram tão grossas que nem mesmo ela ousava transpassar aquela barreira.
Mas Ele ousaria. Sem invadir, Ele estava disposto a resgatá-la.
Cristo não a viu simplesmente como a adúltera, ou a mulher sem marido.
Ele a viu como uma mulher calejada pela vida, cujo coração era um perfeito terreno para sua obra maravilhosa.
A conversa que se seguiu não apenas curou aquela alma ferida, mas continua a nos ensinar, ainda hoje.
Ele sabe quem somos.
Sabe em quantos lugares sombrios estivemos.
Conhece o que passou por nossos copos no último final de semana.
Viu em quantas camas deitamos, ou deixamos que deitassem.
Mas, acima de tudo, Ele vê quem podemos ser em suas mãos.
Aquela mulher deixou que o Mestre da Vida tecesse uma nova colcha em seu coração.
Permitiu que Ele a tocasse como nenhum outro homem jamais havia conseguido: Ele não lhe pôs as mãos, mas seus olhos viram fundo em sua alma angustiada, em seu espírito cansado.
Cristo não apoiou seu erro, seu pecado; mas lhe ofereceu uma oportunidade: arrependimento, conversão.
E ela foi sábia o suficiente para, em uma simples conversa, permitir-se ser curada.
E Ele continua sentado na fonte, dia após dia, aguardando que reconheçamos a necessidade de um encontro com Ele.
Ele ainda diz: "Seus erros não significam o ponto final. Eu posso tentar?"
Seu olhar ainda nos vê. Ele ainda nos ouve e sonda nosso coração.
E ainda assim, Ele decidiu nos amar. Simplesmente, porque Ele decidiu por Ele mesmo que vale a pena.
Ninguém é um caso perdido em suas mãos.
Nenhum passado é feio demais para não ser perdoado.
Nenhum culpa é forte demais para que Ele não possa arrancá-la e pregá-la na cruz.
Aquele que se fez pecado por nós tem plena condição de nos salvar do peso de nossa consciência.
Basta irmos à fonte.
Para o livro Promessas e não Probabilidades
Sua sempre, Rachel=)
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