terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ele ainda ama

Todos preferiam o frescor matutino. Ela não.
As mulheres costumavam andar juntas, conversando sobre casa, família, filhos. Às vezes, algumas fofocas. Mas não aquela mulher.
Ela preferia o sol do meio-dia.
Homens aconchegavam-se sob alguma tenda ou uma mínima sombra de um pequeno arbusto. 
Mulheres ficavam em casa, colocando os filhos para dormir. 
Lagartos se escondiam embaixo de qualquer pedra.
Mas ela caminhava no sol escaldante.
O silêncio era sua única companhia. Sinceramente, sua melhor companhia. 
Afinal, ela era a razão das conversinhas e risadas.

Cântaro nos ombros, costas encurvadas, consciência pesada.
Tudo que aquela samaritana não precisava era de companhia.
Mas naquele dia, ela não pôde evitar.
Ao chegar ao poço, deparou-se com um jovem rapaz.
Traços fortes, encostado na fonte de água. Algo diferente no seu olhar.

"Um judeu, em Samaria?" pensou ela.
"Mulher, podes me dar de beber?" disse Ele.
Aquilo com certeza não acontecia todo dia. 
Um judeu falando com um samaritano. 
Uma samaritana. 
Uma mulher. 
E aquela mulher.

Sua vergonha vivia estampada em sua face, marcada pela dor.
Abandonos, traições. Coração partido. Amou e não foi amada.
As cascas de seu coração eram tão grossas que nem mesmo ela ousava transpassar aquela barreira.
Mas Ele ousaria. Sem invadir, Ele estava disposto a resgatá-la.

Cristo não a viu simplesmente como a adúltera, ou a mulher sem marido.
Ele a viu como uma mulher calejada pela vida, cujo coração era um perfeito terreno para sua obra maravilhosa.
A conversa que se seguiu não apenas curou aquela alma ferida, mas continua a nos ensinar, ainda hoje.
Ele sabe quem somos.
Sabe em quantos lugares sombrios estivemos. 
Conhece o que passou por nossos copos no último final de semana.
Viu em quantas camas deitamos, ou deixamos que deitassem.
Mas, acima de tudo, Ele vê quem podemos ser em suas mãos.

Aquela mulher deixou que o Mestre da Vida tecesse uma nova colcha em seu coração.
Permitiu que Ele a tocasse como nenhum outro homem jamais havia conseguido: Ele não lhe pôs as mãos, mas seus olhos viram fundo em sua alma angustiada, em seu espírito cansado.
Cristo não apoiou seu erro, seu pecado; mas lhe ofereceu uma oportunidade: arrependimento, conversão.
E ela foi sábia o suficiente para, em uma simples conversa, permitir-se ser curada.

E Ele continua sentado na fonte, dia após dia, aguardando que reconheçamos a necessidade de um encontro com Ele.
Ele ainda diz: "Seus erros não significam o ponto final. Eu posso tentar?"
Seu olhar ainda nos vê. Ele ainda nos ouve e sonda nosso coração.
E ainda assim, Ele decidiu nos amar. Simplesmente, porque Ele decidiu por Ele mesmo que vale a pena.
Ninguém é um caso perdido em suas mãos.
Nenhum passado é feio demais para não ser perdoado.
Nenhum culpa é forte demais para que Ele não possa arrancá-la e pregá-la na cruz.
Aquele que se fez pecado por nós tem plena condição de nos salvar do peso de nossa consciência.
Basta irmos à fonte.

Para o livro Promessas e não Probabilidades

Sua sempre, Rachel=)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A linguagem do coração

Chega uma hora em que palavras são inúteis. Não é que elas não traduzem um sentimento ou um pensamento. Elas simplesmente não podem.

Palavras se tornam inócuas, sem som. Nada pode ou consegue esboçar o que se vai no coração. Amargurado, ele se esforça para transmitir, em palavras, o que sente. Pobre coração! Jamais aprendeu a linguagem dos homens, a linguagem das palavras.

Mas ele tem uma arma. Um segredo guardado para todos aqueles que dele necessitam. Pena que é uma linguagem única. Única para quem fala. Única, pois só Um entende.

Jó, Rei Davi, os Profetas Ezequiel, Isaías, Jeremias; qual a semelhança? Viveram em épocas diferentes, em lugares diferentes, sob diferentes dificuldades. Mas todos conheciam o segredo. Eles descobriram a linguagem perfeita para a audição do coração de Deus. S U S P I R O S.

Em todas as passagens há tristeza, choro, arrependimento. Quando não todos eles.
"Pois em lugar de meu pão vem o meu suspiro,  e os meus gemidos se derramam como água." (Jó 3:24)

"Porque a minha vida está gasta de tristeza, e os meus anos de suspiros; a minha força descai por causa da iniquidade, e os meus ossos se consomem." (Salmos 31:10)

"Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor." (Lamentações 3:56)

E o meu preferido:"E abriu-o diante de mim, e o rolo estava escrito por dentro e por fora; e nele se achavam escritas lamentações, e suspiros e ais" (Ezequiel 2:10)

Deus guarda para si um livro de suspiros. Linguagem capaz de acalmar o coração; coloca para fora aquilo que nossa boca não ousa tentar. Segredos não revelados, tristezas secretas, planos frustrados. Normalmente, acompanhado de suas irmãs, as lágrimas. Um suspiro pode contar sua necessidade ao Criador.

E ainda bem que o Pai entende suspirês; afinal, o que seria de mim que tanto deixo meu coração falar?

Um abraço,

De sua sempre, Rachel=)

sábado, 10 de setembro de 2011

Areia, peixe e perdão

Ele não tinha coragem de encará-lO.
Embora tenha sido o primeiro a pisar naquela praia, após uma longa e cansativa noite de pescaria, seu coração não aceitava ser alvo daquele Amor.
E por que Ele tinha quer vir aqui? 
Um local de tantos encontros, de tantos milagres, de tantos ensinos.
Já tínhamos caminhado juntos por, quanto tempo mesmo? Ah, três incríveis anos.
Mas, três dias foram suficientes para jogar por terra tudo isso.

Você não sabe? Como não? Todos sabem.
Qualquer judeu já ficou sabendo do seguidor que o negou.
Os estrangeiros também cochicham pelos cantos.
Até seus irmãos também se calavam quando ele chegava.

E de repente, depois de uma tormenta, uma noite fracassada e uma palavra, aqui estavam eles.
Estranhamente, Ele já estava assando o peixe.
Pão sobre uma pedra.
Sorrisos no rosto daqueles que por algum tempo, imaginavam que nunca mais O veriam.
Mas naquela roda um coração doía. Aquela tristeza que não queria deixa-lo.
A vergonha de ser um traidor.
A decepção de decepciona-lO.

Essa com certeza seria a hora perfeita para Ele.
No meio de todos aqueles que o ouviram dizer que morreria por Ele.
Entre outros que, no fundo, também o julgavam.
Era o momento dEle de dizer algumas poucas e boas verdades.
Nada seria mais lógico.
Mas Ele nunca foi lógico. Ele era o Amor andando sobre a Terra.

"-Pedro, tu me amas?"
Acredito que o apóstolo tenha pensando que era alguma piada.
"Como assim? Eu o nego e Ele me vem perguntar se o amo? Aquela noite não foi uma demonstração suficiente?"
"-Pedro, tu me amas?"
"O que queres de mim? Não sirvo mais para ti."
"-Pedro, tu me amas?"
"Senhor, tu sabes de todas as coisas; tu sabes que eu te amo."

Aquelas perguntas curaram o coração despedaçado de Pedro.
Jesus, melhor do que ninguém, sabia que Pedro não precisava de acusação ou reprovação.
O Seu olhar naquela noite já lhe havia dito tudo.
Pedro precisava ter sua alma curada.
Precisava alcançar o perdão para si mesmo.
Somente Ele podia dar o descanso e a certeza de que era possível amá-lO de todo o coração e não ser rejeitado pelo Seu Amor.

Cristo nunca foi nomeado para acusar. Ele sabe o quanto um ser humano é capaz de acusar-se a si mesmo. E o quanto a tristeza do peso do pecado e da traição pode ser insuportável (afinal, seu amigo Judas não resistira ao peso da culpa e sucumbira).
Naquela praia, Ele nos deu uma certeza: seu Amor jamais recusará um coração contrito. Seu perdão não tem limite, não vem com taxa embutida ou com crédito até o limite de cem pecados na vida.
Ele ama. Ele perdoa. Ele cura almas feridas. Ele resgata tanto pecadores, quanto filhos que se perdem no caminho. 

Ele morreu por TODOS os pecados da sua vida. Todos são todos. 
Não pelos menos feios ou menos escandalosos.
Todos. Sem exceção.
Sem data limite. Sem restrição.
Todos.
Ontem Ele sentou na areia para curar Pedro.
Se você permitir, hoje Ele pode se sentar à beira de sua cama para lhe trazer o que a sua alma precisa.

Um olhar.
Uma pergunta.
Uma certeza.
Um homem curado.
Uma nação impactada.
Uma vida a serviço do Seu Amor.

Para o livro, Promessas e não Probabilidades.

Sua sempre, Rachel=)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Alguém pode?

Alguém pode me garantir que a dor vai parar? 
Alguém pode pelo menos me dar a esperança 
de que um dia tudo será como antes?
Alguém pode me guiar ao descanso outra vez?
Não, ninguém pode.
Sim, Ele pode.

Toma, Senhor. Pega, se é que lhe serve, e refaz... 
Quebra tudo e faz de novo, e de novo!! 
Porque só o Teu Amor me desfaz, e me refaz...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tomado à força

Contei que tive meu aparelho celular furtado? (Senão no blog, com certeza no Face)
Mas algo me ocorreu nesses dias: algumas coisas nos são tiradas à força porque estamos tão presas a elas que não vemos o que há de melhor ao redor.

Depois do drama da "quase perda" do meu aparelho no início do ano, eu não queria me desfazer dele por nada, mesmo querendo, no fundo, um aparelho novo.
E aí, ocorreu o furto. Não houve desespero, a não ser pelas fotos e vídeos perdidos.

E percebi a oportunidade que nunca teria se o celular permanecesse comigo: comprar um novo aparelho!
E mais do que isso, comecei a visualizar como nós, muitas vezes, nos apegamos tanto que somente com um solavanco conseguimos ver além.

Muitas vezes o Pai nos trata assim: Ele tenta nos mostrar algo mais, algo além; mas estamos tão focados no nosso próprio modo de entender e viver a vida, que não percebemos o melhor de Deus se aproximando. E aí Deus se vê "obrigado" a simplesmente arrancar de nós aquilo que mais damos valor para que possamos provar daquilo que Ele mais dá valor.

É preciso compreender que Deus nunca irá privar-nos de algo sem um propósito, sem um alvo traçado.
O Pai ama independentemente do modo como nos comportamos, afinal, somos alvo do seu amor incondicional. 
E sabendo como somos, Ele fará o necessário para que possamos compreender os Seus planos, ainda que isso signifique tomar à força nosso chão, para que possamos alcançar o seu céu.

Abraços

Sua sempre,

Rachel=)