segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Realmente ouvi isso?

Ela com certeza estava atordoada.
Semi-nua, pés descalços, lama em boa parte do seu corpo. Talvez frio. Com certeza, vergonha.
Mas, também, pudera. Fora arrancada de um leito qualquer, ao som de gritos de "morra!".
E agora ela estava diante dEle.

Sem dúvida, a fama dele ia à sua frente. E ela já a conhecia.
Pelo menos de ouvir falar.
Mas tudo que aconteceria a seguir mudaria para sempre seu modo de ver e viver a vida. E, principalmente, amar.

Em farrapos, jogada brutalmente ao chão, ela ouvia cabisbaixa a intenção de seus acusadores.
- Morte! Morte! Apedrejem-na! Morra!
Ela sequer tinha forças ou coragem de se defender.
Quem os culparia? Eles defendiam a Lei.
Ela era a pecadora.
E Ele o Santo de Deus.

Tudo girava ao seu redor, e com certeza ela não ouviu muita coisa.
O medo lhe escorria pela face.
Mas um som oco a fez acordar daquele marasmo:  pedras ao chão.
Talvez ela depois tenha perguntado para alguém o que acontecera; mas naquele momento, o que importava é que as pedras não estavam sendo jogadas. Não na sua direção.

E tudo ficou em silêncio. Um incômodo vazio.
E ainda assim, não havia nela qualquer traço de coragem para fitar o seu Salvador.
Mas Ele fazia questão de que ela O visse e ouvisse.
E então as palavras que ecoariam pelos séculos como um conforto aos corações feridos foram pronunciadas:
"- Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou? Eu tão pouco te condeno. Vá e não peques mais."

Ela deve ter dado uma coçadinha no ouvido, batido levemente com a mão na cabeça. Algo ela fez. 
Ninguém acreditaria no que acabara de ouvir: "Vá... vá... Eu não te condeno... vá... E não peques mais...Vá!"

Fico a pensar em como aquela mulher se levantou. Eu só me levantaria depois de duas horas de choro.
O certo é que, uma hora, ela se levantou. E se foi. E dela não sabemos mais nada.
Mas sabemos aquelas palavras. E essas palavras não morreram com aquela mulher.

O mesmo Cristo, que um dia olhou com compaixão e misericórdia uma adúltera, olhou para o horizonte sobre uma cruz e disse "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem."
Aquele homem fez valer cada palavra quando o túmulo se abriu.
Jesus derrubou todas as pedras de acusação quando deu-se por mim e por você.
O Salvador garantiu que a mim e a você seja dito: "Vá, e não peques mais", quando ressuscitou dos mortos ao terceiro dia.

Naquele dia, Cristo provou ao mundo que o Seu Amor e a Sua Misericórdia sempre estarão ao alcance daqueles que deles precisam. Daqueles que reconhecem sua necessidade.
As mesmas palavras ainda são pronunciadas.
Por cima de pecados "imperdoáveis". Sobre atrocidades inimagináveis. Acima de decisões inconsequentes.
As mesmas palavras ainda serão pronunciadas, sempre que um coração quebrantado se encontrar diante do Olhar do Mestre.

Baseado em João 8

Para o livro, Promessas e não Probabilidades

Sua sempre, Rachel=)

Nenhum comentário:

Postar um comentário